Concepção do Espetáculo

Concepção do Felinícias!

O espetáculo usa o universo lúdico e lírico do clown para resgatar o que tem de mais essencial para uma narrativa: a atenção do espectador para elaborar e articular os signos visuais e sonoros a partir do corpo do interprete.
Felinícias é uma obra com forte apelo visual usado para construir a narrativa, adotando a imagem e a música como elementos principais da montagem. A linguagem de representação busca o patético da vida, da comicidade extraída da oposição entre o belo e o feio, síntese do pensamento romântico e da impossibilidade do amor. Busca o corpo dilatado, a exaltação e a intenção através do gestual e da representação, como se estivéssemos assistindo ao espetáculo dentro de uma sala de cinema nos anos 20.
Inspirado sutilmente em obras cinematográficas de Federico Fellini como Amarcord, I Clowns, Satyricon, La Nave Va, 8 e 1/2 entre outros, o espetáculo é, indiretamente, uma homenagem ao cineasta, preservando, entretanto, a riqueza criativa para uma obra pessoal, com as características do grupo Ueba - Produtos Notáveis, sob direção de Jessé Oliveira.
São utilizadas imagens “felinianas” como referência, onde o grotesco e o belo compõem quadros em que desfilam os personagens numa apresentação multimídia, com o uso de imagens animadas, projetadas em um telão e, por vezes, sobre a própria cena, sendo uma forma de falar à memória. O público, portanto, terá a possibilidade de assistir a peça pelos diversos ângulos entre palco e tela.
Um casal que se conhece na infância e se desencontra ao longo de sua vida, nesta trajetória descobre o desencontro e a impossibilidade de estarem juntos. Esta condição promove uma série de situações cômicas, inusitadas e, em determinados momentos, patéticas. É esta condição que dá a atmosfera do espetáculo até a velhice dos personagens.
A trajetória de Felício e Nícia se desenvolve em dois eixos formando um gráfico em que o tempo e o espaço se distanciam cada vez mais. Através da composição corporal e da expressividade as cenas ganham formas, transformando os espaços dramáticos para criar o universo da fábula, encantando e emocionado o público que se envolve na história.
Com a passagem do tempo, torna-se uma questão preponderante na peça. Ela é acentuada pela divisão em blocos, baseados nas estações do ano e suas respectivas cores e texturas, bem como a fase da vida em que os personagens se encontram.
É um espetáculo que remete às impossibilidades e barreiras do amor e que busca tocar fundo no espectador, que ao longo da peça dá-se por conta de que assim é a vida: cheia de escolhas certas e erradas, mas que a única certeza é que o tempo não perdoa.